Coxinhismo

04/07/2013

coxinhas

As redes socias (ahhh, sempre elas!!) borbulham nas últimas semanas! Bandeira e hino nacional fizeram hora-extra e foram, finalmente, usados fora dos estádios.

Mas algo estranho surgiu em meio à multidão.  E não foi só um, foram centenas, milhares, e talvez milhões que, de uma uma hora para outra, apareceram nas avenidas de todo o Brasil.

O barulho de fritura denunciava, não restando mais dúvidas: eram as Coxinhas!!

Não aquelas que residem ao lado da empadinha e do croissant, e no andar de baixo fica o Torresmo e o Hamburgão. São outras coxinhas, organizadas em movimentos libertários:  Abaixo o sistema, gritavam!

“Não é esquerda, nem direita, é para frente”, clamavam!

Algumas coxinhas, talvez com mais catupiry no cérebro que o normal, tomaram as rédeas do anonimato e, de máscaras, afinal, hoje é “in” e “cult” vestir a armadura Annonymous. Está na moda, e não “pega bem” demonstrar, nesta altura do campeonato, ser um ignorante político. Se não tiver a máscara, basta pintar o rosto de verde-amarelo.

Então lá vão elas, as Super-Coxinhas, fazer um city-tour no centro de São Paulo, esticando um pouco até a 25 de Março para comprar uma máscara do Anonimato. E negociar com o camelô é uma aventura digna de Indiana Jones ou irmãos Villas-Boas: o homem branco de Moema e Jardins comprando do indígena pobre ambulante que vive de “rolo”.

Mais tarde, rumo aos protestos!

As coxinhas, quando isoladas, não sabem muito o que fazer e ficam mais preocupados com a foto do Instagram, por isso elas têm grande necessidade de se reunirem. O pior é a incoerência de milhares delas: enquanto engrossam o coro por desenvolvimento social, tais Coxinhas criticam, a plenos pulmões, programas de inclusão social.

Chega de “Bolsa-Esmola”, “Bolsa-Vagabundo”, Bolsa-Família ou qualquer raio de nome que isso tenha!!, protestam.

Dentro disso, há algo para ser entendido: É impossível equilibrar a sociedade quando o começo é desiquilibrado.  Não há igualdade social quando o ponto de partida de cada indivíduo é desigual.

Para combater desigualdade, os programas assistenciais são fundamentais para a inclusão de todos na cadeia de consumo, e isso está longe de ser assistencialismo. E foi assim que milhões saíram da Classe D e E, em que a renda familiar é de 1 dólar por dia, e pularam para C.  Foi assim que mais de 10 milhões de famílias perderam o benefício porque subiram de classe social.

1 dólar não paga nem a sua…. Coxinha!, Seu Coxinha. Apesar que Coxinha só come coxinha se for da padaria chique.  Em botecos, os Coxinhas não entram. Eles não se misturam com a gentalha, diria Dona Florinda.

Mas não se preocupe, cada um de nós, em algum momento, foi Coxinha. Atire a primeira Coxinha quem nunca deu uma coxinhada na vida!!

Coxinha é desconhecer. Falar o que não sabe ou o que nunca viu e sentiu. Coxinha é ser reaça. Coxinha é ser chato. É ser intransigente. É ser mala. Coxinha é ser Coxinha!

Coxinha quer Joaquim Barbosa para Presidente da República.  Coxinha não sabe nem o que significa STF, mas sabe o que é Mensalão do PT (e desconhece do PSDB). Sabe o que é PEC 33.  Ou, ao menos, pensa que sabe.

Afinal, O Coxinhismo cultua as aparências na Comunidade Facebookiana. O Twitter está meio “over” nos últimos tempos, serve só para pesquisar Blitz da Lei-Seca.

Marcio Vieira


A preconceituosa burguesia

20/10/2010

Multidão, feliz, comprando

Gostaria de fazer algumas perguntas para todos acerca de um grupo determinado que chamarei aqui de “rico idiota”.  Tais ricos, que pregam o elitismo com prepotência, são milhões que se misturam entre as classes A e B do Brasil e expõe um preconceituoso entendimento das classes mais humildes, ou de pessoas vindas de regiões mais pobres, e à eles faço algumas perguntas para reflexão:

É tão ruim ver milhões de pobres subirem para classe média? É tão ruim ver outras dezenas de milhões de miseráveis subir para a classe C?

Mais, é tão ruim ver o zelador do seu prédio com uma televisão “das fininhas” igual à sua? É tão ruim saber que o faxineiro comprou uma scooter zero quilômetro?

“Ah, mas é financiada em 5, 10 anos”, dirão alguns! “Para a televisão ele fez carnê que terminará de ser pago na Copa do Mundo do Brasil. O carro, só em 2018, quando não custará nem metade do preço atual! “

Existem centenas de desculpas para cutucar a felicidade do pobre que nos últimos anos ganhou espaço, ganhou respeito e condições de não só ter o mesmo celular, mas também comprar a mesma televisão e até o mesmo carro de milhões de pessoas que estão na classe média.

Então, vem tais idiotas da burguesia justificar a facilidade de financiamento, dizer que o pobre vai “casar” com o carnê de prestações e só assim conseguiu entrar no mesmo mundo de consumo que tais pessoas já estavam. Pergunto: e daí? Se o crédito foi aceito, qual é o problema dele comprar? Está triste porque a piadinha deles consumirem um CCE acabou?

O problema é que muita gente se sente incomodada ao voar de Gol para o nordeste e ter que dividir o vôo com vários retirantes que visitarão suas famílias. Há ainda um enorme grupo que acha que avião é transporte de rico e pobre tem que se perpetuar dentro de ônibus pinga-pinga.

É problema seu que pobres quitarão o carro em 10 anos?

O mesmo pobre vai tirar o carro zero quilômetro não tem vergonha de dizer que o carro é financiado em 80 vezes. Mas o suposto rico estufa o peito, faz pose e esconde um carnê de três anos. E depois tais burgueses reclamam da quantidade de carros, do trânsito por causa que pobres estão comprando carro. Pessoas que não se olham primeiro no espelho são as primeiras a reclamar.

É muito constrangedor saber que o motoboy está na universidade? Que a menina que te serve café também está na universidade? “Ah, mas são as ‘universidades de esquina’ que rifam o ensino brasileiro“, tais ricos de pensamento responderão.

O fato é que existe um incômodo enorme, principalmente de tradicionais paulistas e sulistas, com o avanço e desenvolvimento de regiões mais pobres, como norte e nordeste.

Se alguma consumidora com sotaque nordestino entrar na Daslu ou Oscar Freire já pensarão, algumas paulistanas, que tal mulher vai deixar o salário inteiro para comprar uma simples carteira. “Que petulância! Onde já se viu um nordestino comprar na Oscar Freire?“, elas pensarão, desconhecendo o crescimento econômico do Nordeste.

Existe, implícita na sociedade brasileira, uma preocupante segregação racial e econômica, principalmente vindo dos eternos frequentadores da classe média, que não admitem novos integrantes que saíram da pobreza. E tais pessoas criticam programas sociais, rotulando alguns como “bolsa-vagabundo”.

Nordestinos, felizes, com suas novas motos

São pensamentos preconceituosos contra programas sociais às classes D e E, e contra as novas aquisições da classe C, como a primeira moto, primeiro carro, primeira viagem de avião, primeira faculdade e primeira casa que milhões de pobres estão adquirindo. Mexeram no queijo do rico (Para quem leu “quem mexeu no meu queijo?”), deixando transparecer em tempos de eleição toda sua insatisfação em ter que dividir o mesmo espaço.

E muita gente com esse pensamento hitleriano perde oportunidades de crescimento do próprio negócio por desconfiar do pobre e de sua condição financeira. O atual governo permitiu que os beneficiários de auxílios consumam, fazendo a economia regional de rincões crescer. Em outras palavras: o dinheiro gira.

Para mudar a vista, precisa mudar de pensamentos

Tais ultrapassados burgueses criticam até as eleições, dizendo que pobre não tem consciência do voto. Ora, o que eles querem, a volta do voto censitário?

A alta elite se dá o luxo de aumentar seus preços para selecionar seu público, deixando a classe média vulverável à invasão dos pobres em ascensão. Está na hora de jogar essa arrogância e prepotência fora, no lixo, e aceitar dividir lojas, bares, aviões, avenidas, hotéis, boates, praia com todos, só assim será possível desenvolver uma sociedade justa.

Para começar uma justiça social e acabar com a desigualdade tem que aceitar dividir o mesmo espaço, mas isso muita gente não está disposta a fazer, infelizmente.

Há, claro, muita gente que está nas classes A e B que não pactuam do mesmo pensamento discriminatório, e que estão dispostos a ajudar ou, na pior das hipóteses, não restringir o acesso e desenvolvimento das classes menos abastadas. Porém, há um grande e triste grupo de pessoas que receberam ótima educação, mas que têm atitudes preconceituosas, seja com uma simples e “inocente” piadinha, ou seja mesmo com tons mais incisivos contra programas de assistência social.

À estes elitistas, um conselho:  Não se preocupem tanto com a vida alheia e não se preocupem com o espaço que nunca foi só de vocês.

Don’t worry, be happy.

Marcio Vieira