Gruyères, Suíça

15/11/2010

Interessante essa coisa de comprar produtos made in tal lugar e nem imaginar como são, realmente, esses lugares. Pra mim, um fanático por queijos, quando comprava alguns pedacinhos de queijos importados no Pão de Açúcar em São Paulo, eu nem parava para pensar no caminho que o queijo fez até eu colocá-lo no meu carrinho, no supermercado.

Algumas semanas atrás visitei Gruyères, no cantão de Friburgo. É uma metrópole enorme com uma população gigantesca (1.800 habitantes, segundo o wikipedia), que vive de turismo e, obviamente, da produção do queijo gruyère.

Agora, imagine numa bucólica cidadezinha com menos de 2 mil habitantes, no meio do nada, ter diversos extraterrestres. Sim, enquanto Brasil recebe a visita de Bilú, nesse belíssimo fim de mundo há um dos museus mais incríveis: HR Giger Museum, do escultor e designer suíço Hans Rudolf Giger, que criou as formas dos extraterrestres dos filmes Alien.

Algumas fotos de um lugar imperdível na Suíça:

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Busquem conhecimento

11/11/2010

A mais nova estrela brasileira, ou melhor, intergalática, é o  simpático extraterrestre Bilú. Um jovem ET de 4.010 anos, brincalhão, todo serelepe que conquistou o Brasil de forma bizarra, e tudo se deu graças à um grande amigo, Roberto Onaga.

Conheço o Onaga faz alguns anos, gente boa, alma do bem. É um brother que resolveu dedicar seu tempo dentro de assuntos relacionados à ufologia, transição planetária, 2012, etc.  E posso falar que nunca vi o cara consumindo drogas, o máximo foi um garrafa de Tonturinha, uma cachaça horrível que bebemos em Garopaba-SC.

E graças ao vídeo do Onaga sobre transição planetária, que foi o primeiro a citar sobre a vida do ET Bilú, toda mídia resolveu ir atrás. SBT, Record, CQC, todos foram até tal cidade do futuro atrás de informações.  Apesar de discordar de quase tudo que ele fala sobre ETs e o lado cômico disso tudo, existem questões implícitas que devem ser separadas, como o realinhamento das galáxias, calendário Maia e a ação do homem na Terra.

Os últimos anos marcaram algumas catástrofes naturais, como tsunamis e grandes terremotos. Presenciamos um clima mais quente em todo mundo, onde, dando um exemplo desta semana, foi batida a maior temperatura de Moscou para o mês de novembro.

É fato que a quantidade de problemas está aumentando, e muito se deve a ação do ser humano e seu consumo irracional, desequilibrado e desnecessário. Uma espécie que está na Terra há pouco tempo, menos de 0,1% de toda a existência do planeta, e que está, literalmente, destruindo tudo.

O mais preocupante, no entanto, é a ignorância e apatia humana daqueles que têm o poder para mudar, mas pouco fazem ou acabam chamando de “ecochatos” aqueles que andam de bicicleta, que são vegetarianos, ambientalistas, ou seja lá o que for, tudo porque é mais fácil criticar do que se desapegar.

Ser humano criou paixão por dinheiro e pelo que ele compra. É inevitável viver sem ele, mas precisa tanto apego? Apego ao novo, novo carro, nova roupa, novo celular, novo isso, novo aquilo, etc., enchendo guarda-roupas, enchendo geladeiras, enchendo o saco sem pensar.

Esta semana, num texto rápido que peguei aqui em Genebra, li a expressão “pensamento global, ação local”. Essas quatro palavras juntas dão corda para escrever uma coleção de livros, principamente no que tange os efeitos daquilo que consumimos.

O reflexo da nossa ação ou omissão é tema que poucos param para pensar. Não falo só das sacolinhas plásticas, falo de tudo, inclusive do conhecimento citado pelo ET Bilú.

Você já parou para pensar se a indústria que produz produto X respeita as leis trabalhistas? Você já viu se a soja Y ou carne S é da Amazônia? Você já percebeu que no seu carro cabem outras quatro pessoas, mas você está dirigindo sozinho? Você já pensou em comer todo seu estoque de comida antes de comprar mais só para ver quanto dinheiro tem lá parado?

O Bilú, seja um charlatão ou um ET, falou para buscar conhecimento. Levem o “personagem” na brincadeira, mas não o que foi dito. Só com a expansão da consciência e ações conjuntas é que esse mundo melhorará.

Eu sei que você sozinho não muda porcaria nenhuma, não pense que seus atos são irrisórios por significarem 0,0000000001% dos reflexos no mundo.  Pense que seus atos são 100% da sua convicção. Todo mundo quer melhorar isso aqui, mas o que precisa é das tais ações locais com pensamento global.

Convide seu vizinho para uma carona, cancele as cartas do banco, peça boletos via e-mail, evite desperdícios de papel, comida, roupa, gasolina, etc. Plante árvores, faça caminhadas se o trajeto for curto, compre só produtos com selos e certificados que protejam a natureza, o trabalhador, que façam compensação do carbono, etc.

Enfim, Bilú falou para buscarmos conhecimento! E o conhecimento está aí para todos. Saiam da caixa, olhem no seu entorno, olhem o mundo e percebam que há muito para ser feito.

Marcio Vieira


Multilinguismo

07/11/2010

Um futuro multilinguístico

Um dos grandes desafios do brasileiro é a dificuldade inicial para raciocinar rápido e falar outros idiomas quando se viaja para o exterior, ou quando recepciona um estrangeiro. Mesmo tendo conhecimentos de outras línguas, o processamento das informações é devagar, se comparado com pessoas de outros países.

A razão para isso é a soma de alguns fatores, como o baixo interesse dos governos em investir em um bom ensino de línguas estrangeiras que se associa à uma característica geopolítica quase única no mundo: a unificação de um idioma oficial num território tão grande.

Se no mundo há cerca de seis mil idiomas, o Brasil é um dos poucos países que unificou um só idioma dentro de um território gigantesco, dando condições para todos os habitantes compreenderem quase que perfeitamente o português. É óbvio que os sotaques regionais são grandes, mas isso não impede a comunicação entre os indivíduos.

Pela dimensão territorial e a suposição de uma desnecessidade, é secular o descaso político acerca de estudos de línguas, visto que são poucos brasileiros que acabam utilizando outros idiomas no cotidiano. No Brasil acabaram enfatizando outras matérias no ensino fundamental, como matemática e biologia.

Força-se no Brasil, então, a cultura de estudar em escolas particulares específicas para ensino de línguas estrangeiras, visto que a qualidade do ensino, seja em colégios públicos como em particulares (excluindo-se colégios de alto padrão) é insatisfatória, deixando alunos sem uma preparação adequada.

E, mesmo investindo em cursos particulares, há um travamento natural quando o brasileiro viaja, principalmente para Europa, porque ele não tem o ouvido e a mente treinados para escutar distintas línguas ao mesmo tempo, causando quase um curto circuito na cabeça do cidadão.

Bem diferente está o continente europeu visto que, desde os primeiros anos do ensino fundamental, as línguas são priorizadas muito em virtude da pequena dimensão de seus países e de uma rica diversidade de culturas, culminando no desenvolvimento do multilinguismo.

Multilinguismo é a facilidade de aprender e de se comunicar em diversos idiomas ao mesmo tempo. Ainda crianças, eles treinam tais mentes para uma compreensão mais rápida e eficiente. Assim não precisam fazer o que todo brasileiro faz, que é mentalizar em português o que quer dizer, traduzir para o idioma que conhece, e só depois falar.

Os europeus, desde cedo, pulam as etapas de mentalização e tradução. Eles integram tudo à fala de forma natural, instantânea e dinâmica. E nos países com índices de desenvolvimento humano mais altos, o multilinguismo é ainda mais eficiente.

Na Suíça, por exemplo, além de ter um IDH elevadíssimo, o país conta com quatro idiomas oficiais (em parênteses a porcentagem da população tem como língua materna): Alemão (63%), Francês (21%), Italiano (7%) e Romanche (0,5%), e o restante é falado por imigrantes, dando destaque ao idioma Português (3,5%) e Espanhol (2,5%).

Soma-se, na formação básica (mesmo em escolas públicas) de um jovem suíço, o Inglês às três principais línguas oficiais do país, fazendo um estudante de 17 anos estar apto para entrar em qualquer universidade do mundo onde o curso será ministrado em tais línguas.

Com essa miscigenação linguística, os suíços desenvolveram uma mente veloz para compreender os diversos idiomas falados por todo o país, onde o pluralismo de línguas é evidente e está em amplo crescimento, já que o país atrai imigrantes de todas as partes do mundo.

Há outros casos no mundo com cidades internacionalizadas como Londres, Hong Kong e Nova Iorque que acabaram fortalecendo o Inglês. No entanto, quando não há uma ligação cultural à língua britânica, outras cidades internacionalizadas, como Genebra, têm seus habitantes desenvolvido uma mente multilinguística, escutando-se num vagão de trem, por exemplo, pelo menos quatro ou cinco línguas simultaneamente.

A cidade de São Paulo, inclusive, está num forte processo de multilinguismo, tanto que é comum escutar ao menos três diferentes idiomas numa simples caminhada por algumas quadras nas avenidas Paulista, Faria Lima ou Berrini.

Os próximos passos dessa multiculturalidade são evidentes. Alguns lugares desenvolveram novas línguas globalizadas, como o “Spanglish”, falado por jovens de origem hispânica, principalmente na Califórnia. Tal “idioma”  mistura Inglês e Espanhol dentro de uma mesma frase.

Já que o Esperanto não se desenvolveu, o Inglês ocupará cada vez mais espaço no cérebro de cada um. No entanto, mais oportunidades comerciais e acadêmicas terão àqueles que investirem em idiomas e treinarem a mente  para respostas rápidas e em uma quantidade maior de línguas.

Fronteiras estão ruindo, e é preciso aplicar um velho ditado: “quem não se comunica, se estrumbica.”

Marcio Vieira


Fair Play, não no Brasil

04/11/2010

Na 33a. rodada do Campeonato Brasileiro, o pênalti marcado contra o Cruzeiro na derrota frente ao São Paulo foi um dos mais grosseiros erros da arbitragem brasileira nos últimos anos.

Errar, dependendo da dificuldade do lance, é aceitável, mas o que me deixou mais indignado foi, nas entrevistas após o jogo, tanto o atacante Ricardo Oliveira (que sofreu suposta falta) como o goleiro Rogério Ceni, autor do gol, disseram que o lance ocorreu fora da área.

“Vendo de longe, eu achei que foi falta, mas fora da área”, disse Rogério e, “não foi pênalti”, admitiu Ricardo Oliveira aos microfones. Oras, se o lance escancarou tanto um erro, maior erro ainda foi o rompimento ao que chamam dentro das quatro linhas de Fair Play.

Em sua simples tradução, Jogo Justo (ou Limpo) não se limita apenas às jogadas violentas e carrinhos criminosos, ou combate ao racismo e trabalho infantil, campanhas essas levadas por jogadores de futebol de boa parte do mundo. O jogo limpo é, também, ser ético para incentivar toda uma sociedade a ser ética.

E ética foi algo que não existiu em nenhum jogador do São Paulo em relação ao lance, nem mesmo seu maior ídolo, Rogério Ceni. Decepcionante aos amantes do futebol que um atleta raro como ele, que articula bem as palavras e que demonstra liderança, tenha pactuado com o erro da arbitragem, sabendo que o lance não ocorreu dentro da área.

Não é utópico, não é no mundo fantasioso que atletas que seriam beneficiados pela marcação avisam a arbitragem sobre o erro, renunciando a possibilidade do gol, e da vitória.

Na Inglaterra o Flair Play é levado muito à sério. Há inúmeros casos de jogadores que discordaram de alguma marcação ao próprio favor. E quando ocorre o contrário, toda a sociedade, inclusive torcedores do próprio time, criticam o “atleta-ator”, como aconteceu com Eduardo da Silva, ex-Arsenal, que foi à Corte da FIFA por causa de simular um pênalti.

Jogadores “cai-cai” perdem cada vez mais espaço no futebol europeu, pois além de não demonstrar o Jogo Limpo, acabam manchando a imagem do próprio clube que, inevitavelmente, tem seu nome associado ao jogador-ator.

Por outro lado, quando um jogador pára um lance propositalmente ou discorda da marcação, é ovacionado por ambas as torcidas. E são jogadores assim que faltam dentro do futebol brasileiro, comprovado mais uma vez na última quarta-feira, e perpetuando a “Lei de Gerson”.

São por essas e por outras que grandes clubes europeus se preocupam com a índole dos jogadores brasileiros que lhes interessam, onde a teoria maquiavélica dos fins justificarem os meios não é bem quista no velho continente.

Rogério Ceni, no alto de sua suposta sabedoria, poderia ter garantido sua estátua no futebol brasileiro ao recusar o pênalti ou chutar a cobrança na lateral. Faltam Martins Luther Kings de chuteiras para estimularem uma justa consciência coletiva dentro do campo e também nas ruas.

E tais atletas esquecem nessas horas que eles são as referências para milhões de jovens num Brasil com raras oportunidades. Rogério e Ricardo Oliveira, infelizmente, mostraram que precisa ser malandro pra vencer.

E não culpo só o São Paulo ou Rogério. Já aconteceram tantos outros lances semelhantes no Brasil e nenhum deles fez diferente, ninguém foi justo, independentemente do escudo que defendem.

A FIFA prega o Flair Play porque sabe que o futebol está completamente inserido na sociedade, fazendo do esporte uma das principais ferramentas no desenvolvimento de valores sociais.

Uma pena que as cinco estrelas do Brasil não condizem com a posição do país dentro da ética e moral no futebol. Nesses quesitos o Brasil não está nem na terceira divisão, está na várzea.

Marcio Vieira