Papai lutou, e daquela história, ele nos contou.
Botinadas levou, feridas no coração, a repressão da opinião.
Papai apanhou, alguns exilados, outros com sacos eletrocutados,
não poderia discordar, era a truculência dos fardados.
O preço com tanto sangue fez o Brasil mudar,
O povo, finalmente, voltou à votar
Escolher quem quiser, seja lá quem são
A liberdade era um sonho da nação.
Papai sofreu, a inflação comia o dinheiro
Almoçar, agora não dá mais para o tempero
Planos infinitos, Cruzado, Cruzeiro
Além de votar errado naquele que foi o primeiro.
E dentro desse momento, papai nos concebeu
Eram filhos da esperança, filhos da liberdade
Depositando aquilo que ele nunca recebeu
A chance de opinar, de falar, a tal dignidade.
Com muito esforço, papai nos educou no Real,
para um dia, quem sabe, entrarmos na Federal
Difícil foi, não tem como negar,
mas agora os frutos querem gritar.
Vamos lutar, ò filhos da democracia!
Lutar por qualquer coisa, serve até a hipocrisia.
Papai nos contou como é lutar para vencer
Temos que ter motivos, e nossos rostos esconder.
Vamos reivindicar, vamos protestar
Somos os filhos da esperança
Exigimos no campus mais segurança
Vamos contrariar, nada de Polícia Militar.
É que papai falou que aquele coturno dói
Mas isso era em 70, 80, na Ditadura,
quando tinha motivos para a luta,
É com liberdade que uma sociedade se constrói.
Então, ò líderes da baderna, qual será nossa luta?
Não sabemos, não importa, faremos nossa conduta.
A liberdade que papai lutou não pode se alterar
Nem que o motivo seja ou não uma baseado para fumar.
Papai deve estar orgulhoso de nós acampados aqui!
Invadimos, quebramos tudo, na assembleia vamos votar
Somos o futuro do Brasil, a geração que um dia vai liderar
Não importa se a democracia não sabemos respeitar.
Mas a verdade é que papai está com vergonha.
Daquela liberdade que veio, no fim dos 80, numa cegonha.
Filhos que não souberam entender o que é lutar
Que não significa guerrear, mas sim acreditar.
Filho não reprimido virou playboy comunista
Rebeldes sem causa, ingratos por uma conquista
Banalizaram a vitória pela liberdade de pensamento
Em badernas travestidas de movimento.
Filhos da Liberdade não entendem o que é legalidade
Querer afrontar um sistema com tão pouca idade
Prematuros de Collor, seus 20 e poucos é tão pouco
Com revoltas sem sentido, vocês estão loucos.
Papai não sangrou em vão
Honrem agora liberdade de uma nação!
Lutem por injustiças, lutem contra a corrupção
Hoje coturnos e cacetetes não reprimem mais opinião!
Acordem, Filhos da Liberdade, cresçam!
Respeitem a democracia, à conheçam.
Polícia Militar é necessária em qualquer lugar
Não é culpa deles se a Guarda Universitária deixava fumar.
Tenho medo quando estiver na aposentadoria
Afinal, que geração é essa que será nossa voz um dia?
Filhos da Liberdade, tão carentes de motivos
Mimados, querem que a sociedade os dê ouvidos.
Marcio Vieira
Gostei! 🙂